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A construção da autoimagem na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa

Atualizado: 26 de dez. de 2020



Na visão de Carl Rogers, a autoimagem é a conceito que uma pessoa constrói de si numa versão subjetiva, vivida pela pessoa ao longo da vida, suscetível a alterações perceptíveis a partir de suas experiências.


Além disto, a autoimagem é um fator dinâmico da personalidade construída por percepções de si e das pessoas e coisas a volta, que são mutáveis, podendo ser comparado como uma Gestalt, cuja significação vivida está disponível a mudar sensivelmente e até mesmo sofrer uma mudança repentina, em decorrências a mudanças que possam acontecer nos elementos a sua volta. Ela é o reconhecimento de si acumulado que para o equilíbrio da saúde mental vai precisar estar disponível e suscetível a atualizações conscientes, caso contrário pode se tornar enrijecida, estática, desajusta, desatualizada, sem abertura para viver o novo. (EVANS, 1979)


O desajuste no autoconceito, chamado por Rogers (1977) como um estado de desacordo entre o eu e a experiência, ocorre quando uma pessoa não consegue entender e aceitar as alterações que acontecem em seu organismo, assim ele acaba persistindo numa imagem já construída de si, que não condiz muitas vezes com a realidade experimentada. Rogers (1977, p.84) afirma que este desacordo pode ser explicado da seguinte forma: “O indivíduo pode [...] se imaginar a si mesmo como sendo caracterizado pelos atributos a, b, c, e como experimentado os sentimentos x, y e z.


Numa exemplificação concreta da citação acima pode-se pensar numa pessoa que insiste em ter comportamentos para manter um relacionamento, enviando mensagens afetuosas, por sentir medo de ficar sem essa relação, quando já não há mais sentimento de amor e desejo por essa pessoa. Este é um tipo de mecanismos de defesa, onde a pessoa diante de uma realidade congruente irá negar ou distorcer, como forma de evitar o contato direto do seu eu com a frustração sobre o que realmente está acontecendo. (ROGERS, 1977)


A pessoa ao utilizar o mecanismo de distorção não está eliminando elementos do seu campo perceptivo. O que faz é passar a perceber ao seu modo uma determinada situação, pessoa, sendo essa pessoa ela ou outra. Então o que vai fazer é criar uma lógica mais confortável para não ter que lidar com a angústia geradora de possíveis experiências sofríveis que ela tinha vivido. Já na negação há uma eliminação dos elementos do campo perceptivo da pessoa, pois para ela estes lhes causam incomodo, portanto, ocorre geralmente, neste caso uma alteração no campo da percepção e da memória de um modo que a pessoa julga ser confortável ao seu eu.


Uma pessoa quando criança vai moldando a sua autoimagem, de acordo com as experiências que acumula no ambiente que faz parte. Diante de uma mudança brusca como a perda da saúde física ou emocional, do trabalho, de um ente querido, que trarão a ela consequências que ela entende como ameaçadora ao seu eu, irá ter contado com uma imagem de si diferente ao que, possivelmente a realidade mostra, como sendo para ela momento de morte, de aniquilação e destruição de sua existência, vindo a sentir angústia, medo, ansiedade, pavor, podendo até gerar bloqueios e traumas que impedem sua atualização.


Há pessoas, diante de experiências frustrantes, segundo Rudio (2003) e Rogers (1977) que resistem por aceitar as possíveis mudanças através de novas experiências, sendo assim, essas pessoas acabam por não construir uma imagem realista de si, e das coisas a sua volta, dificultando uma aceitação e um bom funcionamento e relacionamento com a sua imagem, compatíveis a nova realidade. São pessoa com dificuldades de se reinventarem, de se reciclarem, minimizadas em sua resiliência. Neste sentido acabam se tornando pessoas rígidas, não dando oportunidade de se reconhecer e se readaptar diante das situações vividas.


Deste modo chegasse num conceito importante para o desenvolvimento positivo do humano, inclusive para sua autoimagem - a Liberdade Experiencial. Liberdade responsável por dar a permissividade, o reconhecimento e a interiorização de quem se é, de forma livre, sobre todas as suas experiências. É uma liberdade para experimentar emoções, pensamentos, ideias, sensações.


A pessoa livre consegue experimentar pensamentos, desejos, vivenciando novas experiências não seguindo os padrões estabelecidos pela sociedade ou impostas pelas pessoas, que são importantes para o sujeito, e ainda, consegue seguir na vida de acordo com suas percepções subjetivas. Quando essa liberdade não acontece, a pessoa minimiza a capacidade de se reconhecer por aquilo que é, correndo o risco de ter ações pautadas em percepções que os outros projetam nela, mas que a pessoa em si não as formulou, nem tão pouco as reconhece. (ROGERS, 1977)


Assim, a pessoa conhece suas experiências, não por aquilo que ele acredita, mas pela avaliação que ele acredita que o outro faz dele, ele entra num desajustamento psicológico. Concluo que negar as suas percepções e suas experiências a fim de se sentir aceito pelas pessoas e negar a si mesmo.

REFERÊNCIAS

EVANS, Richard Isadore. Carl Rogers: o homem e suas idéias. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

ROGERS, Carl. Ranson & KINGET. M. Psicoterapia e relações humanas: Teoria e prática da terapia não-diretiva. 2. Ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977.

RUDIO, Franz. Vitor. Orientação não-diretiva: na educação, no aconselhamento e na psicoterapia. 14 ed. Petrópoles: Vozes. 2003.


Até a próxima!!

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Colunista:

Eliete Sergina de Sousa CRP 12/09352

Psicóloga (Unisul)/SC / Terapeuta Centrada na Pessoa (Espaço Viver/SC) 

Instagram: @psicologaelietesergina

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


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