Aceitação X Conformismo
- Psicóloga Eliete Sergina de Sousa
- 13 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de dez. de 2020

A não-aceitação é a luta com a realidade, é baseada na imaturidade emocional, na falta de consciência.
Tenho notado que uma das dificuldades para viver uma relação saudável é deixar de criar expectativas sobre a relação, sobre si e sobre o parceiro e, aprender a aceitar o que é.
Há uma tendência em nós, um tanto quanto egocêntrica, de querer que as coisas sejam do nosso jeito, não é mesmo? Assim dá-se ao eu um jeito falseado de estar seguro. Quer-se mudar o outro, pois se ele for aquilo que almejamos, ou que julgamos ser mais correto, será para nós mais conveniente as nossas necessidades. É dito que assim fica mais “fácil” para eu aceitar, quando ele/ela se propõe a fazer do meu jeito.
O exercício da aceitação exige um desdobramento sobre o olhar, onde de um lado estarão suas verdades, valores, princípios e do outro uma abertura para deixar se aproximar o que chega, que não é seu, mas que pode trazer comunicado para sua autopercepção e para seu entorno. Este é um exercício dinâmico, que tem movimento e que nele envolve cuidado, respeito, responsabilidade e reconhecimento. A isto com toda certeza há consciência envolvida: de si - quando reconheço o que a aceitação vai promovendo em mim e, do outro - quando aceitando o que vem de fora, seja do outro ou da relação, eu consigo perceber e me movimentar.
Diferente disto está o conformismo. Este sinaliza estagnação, paralisação e adoecimento como consequência, porque vai se ficando impossibilitado de trabalhar a partir das transformações que chegam.
Então o que é comum acontecer diante da capacidade de aceitar:
Ou passa-se a querer o controle, sobre si, sobre a relação e sobre o outro, achando que assim tudo está no seu devido lugar.
Ou vai-se de pouco em pouco paralisando e se conformando diante de fatos, situações do cotidiano. Aquelas falas como “não adianta dizer mais nada mesmo. Hoje me calo!! É melhor assim, pois já cansei de tanto querer mudar”. Agindo deste modo se está sendo negligente, desrespeitoso e apático diante de vontades e pontos de vista, ficando paralisado, como que num momento de morte em vida.
Percebem que o conformismo é diferente da aceitação, sendo que neste não há fluxo, uma coragem para deixar chegar por vir e interagir com isto, podendo ou não ao final querer ficar. Enquanto que no conformismo há estagnação de percepção, uma espécie de defesa a mudança de si, ficando no aguardo e na espera que a mudança seja no outro ou até mesmo nem esperando mais nada. Estando ali congelado, sendo para uma pessoa uma forma de se manter na relação.
Existe uma passagem no livro “o despertar do tigre”, do autor Peter A. Levine, em que ele diz que vai existir situações em nossa vida que será estratégico se recolher atrás de uma “moita” e aguardar o inimigo passar, a dita frase “deixe a poeira passar”, quando se está vivendo situações que não se sabe o que fazer, aguardar pode ser a melhor solução para o momento.
Porém, há um movimento que é instintivo em nós quando avistamos o perigo, que é uma alteração da consciência, fenômeno este eminente de mamíferos quando percebem a morte. Alguns povos indígenas até dizem que isto seria a entrega do espírito da presa ao predador. Se perguntássemos a um fisiologista ele diria que este fenômeno nada mais é do que uma espécie de “congelamento” ou “mobilidade”, assim como diz Levine com a ideia de se esconder “atrás da moita”. O mais interessante desta explicação é que de fato isto ocorre com o humano e além disto, quando em perigo também podemos ou fugir ou lutar.
Conversando com a neurociência a explicação deste fenômeno é que diante de uma estímulo, que emane para nós perigo (seja ele de ordem objetiva - se deparar com alguém apontando uma arma na sua cabeça; ou numa ordem subjetiva quando uma fala dita num tom que em nós desperta memórias), imediatamente é enviado um comunicado pelo hipocampo para amígdala que tem perigo à vista. Esta informa para o sistema endócrino que ele precisa liberar hormônios como cortisol, adrenalina, noradrenalina, onde estes irão propiciar em seu corpo reações diante do perigo, que podem ser congelar, fugir ou lutar.
Você já se deu conta disto acontecendo em você e do como essa descarga hormonal, principalmente quando estamos constantemente vivendo situações que nos ameaçam, podem ficar intensa e ser prejudicial a sua saúde, podendo principalmente provocar alteração no nosso comportamento? As suas capacidades de dar respostas fluidas ao que acontece, sem se apavorar, quando não ficando até congelado, digamos também, conformado e sem ação diante de situações de sua vida quase que desaparecem.
Até a próxima!!
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Colunista:
Eliete Sergina de Sousa CRP 12/09352
Psicóloga (Unisul)/SC / Terapeuta Centrada na Pessoa (Espaço Viver/SC)
Instagram: @psicologaelietesergina
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