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Uma breve apresentação sobre a constituição da personalidade para a ACP

Atualizado: 26 de dez. de 2020




A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) foi reconhecida publicamente no ano de 1940, momento em que Carl Ranson Rogers, criador deste jeito de estar nas relações, assim descrito por ele, fazia uma apresentação de seu trabalho em uma conferência na Universidade de Minnesota. Nesta época o autor se depara que seu trabalho como psicólogo, educador, pesquisador, facilitador de grupos e outros se diferenciava dos já apresentados. Constatou que o foco da sua teoria e trabalho não era ajudar as pessoas a resolverem um problema, assim como era feito por outras abordagens, mas ajudá-las a encontrar recursos internos para lidar com suas dificuldades, seja elas de que ordem e em que tempo, pois é uma abordagem que acredita que o ser humano possui dentro de si uma capacidade, uma tendência natural e individual para o crescimento, saúde e adaptação.


Um dos princípios da ACP é a Tendência à Atualização e a Noção de Self, além das posturas terapêuticas. Rogers (1977) apresenta que essa tendência é a capacidade mais fundamental do homem, compõe o exercício de todas as funções, seja ela física, emocional ou mental, considerando que ambos estão interpenetrados e inseparáveis, ao passo que a saúde e o bem-estar físico do indivíduo está atrelada as suas experiências. Santos (2004) nomeia a tendência à atualização como “uma fluidez interna de movimentos” (p.45). Esta é uma espécie de energia que coloca o homem em ação, que visa desenvolver todas as suas potencialidades, assegura sua conservação, manutenção e enriquecimento, salvas as limitações do meio. É uma força inerente ao ser humano, que todos possuem, uns mais outros menos, dependendo das condições do ambiente em que a pessoa faz parte, pois este tem influência no processo de avaliação organísmica e tão importante quanto, a forma como a pessoa percebe a si e ao outro em função da noção do seu self. Se estiver diante de um meio facilitador e aceitador, haverá grande possibilidade de desenvolver-se rumo as suas reais necessidades, a sua realização pessoal. A Tendência à Atualização então favorece:

[...] o desenvolvimento integral do indivíduo pelo crescimento de tudo que possui e de tudo o que é, de sua importância, seu saber, seu poder, sua felicidade, seus talentos, seu prazer…. Este termo deve ser entendido no sentido fenomenológico, portanto subjetivo. Procura atingir aquilo que o sujeito percebe como valorizador ou enriquecedor - não necessariamente o que é objetiva ou intrinsecamente enriquecedor. (ROGERS, p. 41, 1977).


O conceito de Tendência à Atualização pode ser compreendido, também, como a motivação que impulsiona o homem a ação. Aquela que certas regiões neurais são responsáveis por gerenciar, envolvido por uma circuitaria formadas por estímulos sensitivos, captados a partir de percepções sejam elas visuais, olfativas ou de outra ordem. Esses estímulos ao chegar às estruturas responsáveis irão ativar uma cadeia específica de região do cérebro, apresentando no corpo respostas positivas ou negativas, com mais intensidade ou menos, dependendo das condições neuro psicofisiológicas de cada pessoa (LENT, 2005).


Contudo, é necessário considerar que o ser humano, também, sofre interferências de estímulos sociais, que pode ser visto nas relações a partir de atitudes, algumas vezes doce, aceitadora, e em outras amargas com demonstrações de descaso, violência, abandono. As influências que acometem os seres humanos, seja ela por meio de comportamentos explícitos ou pensamento e sentimentos, se fazem em alguns casos numa medida provavelmente maior do que os estados neurológicos, neuroquímicos e neurofisiológicos, por ser influências de ordem fenomenológica, logo invadem o campo das significações subjetivas, que é una, particular de cada pessoa (ROGERS, 1977).


Essas interferências e o produto delas no organismo, em alguns momentos da vida, dificultam o bom desempenho a atualização do homem, pois coloca este a se desenvolver por meio de comandos externos, dar mais importância a falas de outras pessoas e não por meio da sua energia interna positiva e promovedora de crescimento.


Essas significações de vida de cada pessoa, se dá no momento em que ela, por volta dos 2 (dois) anos de idade inicia seu processo de formação de personalidade. Momento que supostamente ela começa a se preparar para compreender que é um Ser independente de outro Ser. Que tem desejos, que faz escolhas e reage de forma a construir significações a seus vividos. Algumas vezes consegue construir essas significações, daquilo que é percebido tal qual foi experimentado, sem distorções ou negações. Já em outras ocasiões, onde o meio a considera de maneira condicionada, em que a instância família, escola e sociedade exigem de ela ser uma criança tal qual se adeque a regras e normas, muitas das vezes não compreendidas, sendo estas impostas, ordenadas e, para não decepcioná-los, pois caso contrário perderia o amor destes, passa agir de acordo com os comandos externos e aos pouco vai se distanciando do seu self real, dos seus desejos, vontades, do seu referencial interno.


A energia que a move (tendência à atualização) pode ser até desvirtuada, ao longo da vida de uma pessoa, embora nunca será destruída. Neste caso o carro chefe que a guia pode ficar confuso, porque seu corpo experimenta sentimentos ambivalentes a sua mente e, colocá-los em prática, significa correr o risco de perder a integridade do seu eu e o que aparece como sinal é comportamento ansioso, violento, algumas vezes acompanhado de culpa, angústia, medo, frustração, etc. Uma confusão das significações daquilo que é percebido e experienciado.


No início da vida de uma pessoa a sua referência sobre o que precisa, sobre o que não precisa é manifestado pelo seu interno. Tudo aquilo que ela experimenta é considerado por ela como real, até porque, nessa fase inicial da vida ela não reconhece o outro, já que para ela nenhum outro indivíduo será capaz de imergir no seu mundo, “[…] a criança vive num meio que, do ponto de vista psicológico, existe somente para ela” (ROGERS, P. 196, 1977).


O que conta são as experiências que percebe como favoráveis a preservação do seu organismo.


O ser humano para Carl Rogers, ao nascer inicia sua caminhada de experienciação e significação dos seus vividos. Quando bebê ele é só reflexo, seu sistema neurológico aos poucos vai amadurecendo e de movimentos involuntários seu corpo passa a adquirir movimentos voluntários, até descobrir por meio da interação com o meio (objetos e pessoas) que o afeto é uma fonte de satisfação ou frustração, e que este mesmo afeto vem de fora, do outro, por exemplo, sua família, mais especificamente seu mãe. Observa as afeições do rosto, seus gestos, comportamentos que lhe dão prazer ou desprazer e os toma como base em algumas relações futuras. Constrói imagens da maneira como sua mãe, em alguns momentos, retém afeto e em outros libera, arquitetando representações hora satisfatórias, hora frustrantes. A primeira preserva a integridade do eu, a segunda causa ameaça, promove medo, por colocar a prova a sobrevivência do indivíduo. Essas representações são de ordem psicológica, portanto subjetiva, singulares para cada pessoa e são elas responsáveis pela formação da Noção de Self. Cada pessoa constrói a sua, real ou ideal, e aos poucos essas representações se estendem para todo indivíduo fazendo parte integral de sua personalidade.


A Noção de Self, para ACP está atrelada a maneira como o indivíduo percebe a si e ao mundo, de acordo com a realidade experimentada por ele. Rogers constata que a medida que esta noção vai sendo formada, desenvolve-se momentaneamente a Necessidade de Consideração Positiva, que é uma necessidade “[…] universal, considerando-se que ela existe em todo o ser humano e que se faz sentir de uma maneira contínua e penetrante” (ROGERS, p.198, 1977). Ela pode ser de si, ou do outro. De si, quando está associada às experiências relativas ao seu eu, seja por meio das satisfações ou frustrações da necessidade de consideração positiva. Do outro, quando emana do campo perceptivo do outro, para atender a satisfação de uma referencial que vem de fora.


O homem é bom e curioso, que precisa de ajuda para poder evoluir, havendo então a necessidade de técnicas de intervenção facilitadoras, a partir de uma postura sensível, sem julgamento por parte do terapeuta, de modo a aceitar o cliente de maneira incondicional, congruente e empática. Posturas estas que auxiliam no desenvolvimento da personalidade, no exercício contínuo do crescimento enquanto pessoa, de atualizar-se, de estar nas relações e nelas ou delas poder se encontrar e torna-se pessoa. Portanto, para ACP o ser humano necessita de relações permissivas que promova o exercício de: Aceitação Positiva Incondicional, Compreensão Empática e Autenticidade, sendo este o tripé básico para o sucesso de qualquer tipo de relação humana.


Aceitar uma pessoa incondicionalmente é ter respeito pela sua história, isso não significa aceitar todos os seus comportamentos, mas aceitar o que é feio e bonito nela, e compreender que em algumas situações aquilo que ela apresenta como resposta para uma determinada situação é o que conseguiu dar conta ou aprender. É possível então ajudá-la a refletir sobre a forma como ela reage diante de algumas situações da vida, promovendo ampliação de percepção e possibilidades de construção para novas atitudes. Ajudá-la a aceitar-se na sua completude, reconhecer o que já aprendeu de si e sobre o que ainda preciso aprender. (ROGERS, 1977).


Além disso, desenvolver a capacidade de Compreensão Empática. Esta é uma postura que perpassa a capacidade de se imergir no mundo subjetivo do outro e de participar da sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal e não-verbal sem jamais perder a condição de como se. E não será possível desenvolver essas duas posturas deixando de lado a sinceridade com seus reais sentimentos, afinal isso compreende desenvolver sua autenticidade, nada mais que um acordo entre experiência e consciência de forma sincera e honesta com o que é experimentado em si das experiências do aqui e agora. (ROGERS, 1977).

REFERENCIAS

LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios Conceitos Fundamentais da Neurociência. São Paulo. Editora Atheneu, 2005.

ROGERS, Carl R.; KINGET, G Marian. Psicoterapia e relações humanas. 2. ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. 1 v.

Até a próxima!!

___________________


Colunista:

Eliete Sergina de Sousa CRP 12/09352

Psicóloga (Unisul)/SC / Terapeuta Centrada na Pessoa (Espaço Viver/SC) 

Instagram: @psicologaelietesergina

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


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